Saúde feminina em primeiro lugar

RELATO

Meu parto não pode ser relatado a partir do início das contrações apenas... Na verdade, meu trabalho de parto teve início dia 18/07/2018, quando minha bolsa estourou. Eu já tinha lido tantas coisas, mas saber que eu poderia tentar segurar a gestação com a bolsa rota, isso eu não sabia. Pense numa agonia!! Corre para emergência, liga para mãe, para marido, prima, doula, médico...Líquido saindo sem parar, faz a ultra, espera, médico de plantão esclarece as dúvidas, espera, toma corticóide para amadurecer o pulmão do bebê, espera, chega resultados: “sua bolsa realmente estourou e você terá que ficar internada....mas ainda bem que seu bebê tem mais de 1kg!” Calma, mamãe ficou tonta! Faltava terminar quarto, enxoval, tirar as fotos gravidona...nada disso eu pude fazer. Meu médico, que é um anjo na Terra, me deu uma aula. Explica que vou ficar internada para evitar infecção, terei que tomar muita água (muita água meeeesmo), repouso quase absoluto e aguardar a hora que João Arthur quiser dar as caras. Eu estava com 28 semanas e 2 dias e só poderia segurar a gestação até 36 semanas e 6 dias...o que ainda faria do meu filho um prematuro. Pois é! Mil coisas se passaram na minha cabeça: medo, angústia, tristeza, mas tinha fé que tudo sairia bem e que meu apressadinho viria com saúde. Foram 25 dias internada. Dias difíceis. Mas tudo na vida tem um lado bom...recebi muito amor, muita energia positiva. Foi desde comida escondida até uma boa conversa. Três pessoas se internaram comigo: meu marido, minha mãe e minha sogra. Era um revezamento ritmado que me deixava muito segura. Cada semana que se passava, era um alívio para alma. Eu acompanhava o desenvolvimento de João e pedindo a Deus que meu bebezinho aguentasse mais um pouco. Dr. Raniere ia me ver duas vezes por semana e ali não rolava apenas consulta, mas uma conversa agradável, onde ele permitia uma conexão humana, cheia de amor. Em mais uma sexta-feira, mais precisamente 10/08/2018, algo estranho estava acontecendo!! Era João Arthur começando a dar sinais... No sábado acordei com a certeza que estava perto de conhecer o grande amor da minha vida. Foi um sábado diferente e cheio de ansiedade. Algumas visitas, muitas contrações, nenhuma dilatação, aplicativo de contagem baixado, ainda conseguia achar e fazer graça...e por milagre e obra do espírito santo, a enfermaria estava V A Z I A! Que sonho! Que paz! Todos avisados da iminência de João Arthur chegar: dr. Raniere foi me ver e avisou: “o bicho vai pegar essa noite”; minha doula querida, Diva (papel mágico no meu parto), Dra Ana Lúcia, a neonatal, que me fez amá-la em poucos minutos, as enfermeiras obstetras..deu até tempo de contratar as fotos com Ize (perfeita). Horas passando, dores me aperriando, contrações se firmando e dilatação aumentando. Era um tal de frio e calor. Tomei banho, comi, tomei água, recebi massagem nos pés, vomitei, neguei remédio para inibir nascimento, dilação aumentou mais, não escutei nenhuma música selecionada, minha mãe que não era para ver nada, viu tudo, marido dormiu, acordou, teve dor de barriga, dr. Raniere preso em outro plantão e eu ligada em tudo. Nada de partolândia!!! Realmente o bicho estava pegando. Mas meu médico chegou na hora exata. Vai nascer, Dr.! Vai nascer... Nunca imaginei ser tão difícil subir em uma maca. Chego no bloco cirúrgico (João teria que nascer lá devido a prematuridade), me sento na banqueta e faço minha análise da sala inteira... mamãe ligada em tudo. Foram mais ou menos uns 20 minutos do expulsivo. Apesar da dor estar bem intensa, eu estava cheia de amor. Algumas “boas” contrações...Diva não segurava apenas minha mão, mas toda a situação – “chama João, pessoal!” – ainda bem que ela estava lá! Dr. Raniere sentado no chão com Diogo, só esperando o momento exato (se todos os médicos fossem assim). Simony, enfermeira obstetra me ajudando a vocalizar. Gratidão! E Dra. Ana também no aguardo do príncipe. E Diogo! Ah, Diogo..que suporte! Que força! Mas ao mesmo tempo uma suavidade. Ele também chamou pelo nosso filho, da forma mais linda que já pude ver: cantou para João Arthur. E assim ele nasceu, rápido, para os braços do pai, em pleno dia dos pais (12/08/2018). Ele pariu comigo. Pude segurar meu filho, senti aquele cheirinho indescritível, escutei seu primeiro choro e fui bombardeada por um amor que até hoje não consigo mensurar. Foi rápido, mas meu medo de não poder tê-lo em meus braços era tanto, que senti alívio naqueles poucos minutos. Apesar de prematuro, meu bebê nasceu bem! Às 04:54 horas, com 41 cm, 1,900 kg, de um parto normal...melhor momento da minha vida. Minha recuperação foi ótima, mas só a física. Tive alta no outro dia, mas meu filho iria ficar lá. Era o corpo voltando (nem tanto)...não tinha mais a barriga e nem ele em casa. Como dizia meu marido: o dia só começa quando a gente visita João. Era muito difícil ver aquele serzinho na sonda, recebendo luz; também era difícil não amamentar – tive que ordenhar meu leite. Meu consolo era saber que ia para ele e faria toda diferença. Sofrido ver meu filho ali, lutando pela vida, tão pequeno, tão indefeso. Era terrível ter que pedir para pegar o MEU filho, voltar para casa sem ele e não ter forças nem vontade de fazer nada. João Arthur recebeu alta da UTI depois de 17 longos e difíceis dias. Tive que me internar novamente para acompanhar com ele, seu desenvolvimento. Agora ele mamava no peito e precisava continuar engordando. E assim aconteceu. Depois de 05 dias, recebemos alta e fomos para nossa casa. Ufa! Vencemos. Assim, no dia 03/09/2018 teve fim meu trabalho de parto. Foram 47 dias. Alívio. Felicidade. Força. Gratidão...por tantas coisas e pessoas. Pelos médicos, enfermeiras, ao hospital De Ávila, minha família, meus amigos. A dor passou. O medo às vezes ronda, mas o amor...esse se multiplica a cada milésimo de segundo. Com certeza passaria tudo novamente para ter João Arthur. Nem sei como vivi tanto tempo sem ele...
Amina Lemos