Minha primeira consulta com Dr. Raniere foi há 5 anos (2018), quando estava grávida do meu primeiro filho, João. Como ele nasceu no mês em que Raniere viajava de férias, não pude, naquele momento, ter sua assistência no parto. Continuei depois com ele como ginecologista (com uma pausa na pandemia). Em dezembro de 2022, fui pega de surpresa pela minha segunda gestação, aos 40 anos de idade. A gestação foi evoluindo tranquilamente e o irmão mais velho estava radiante com a chegada da irmã tão desejada por ele. Quando chegamos na 37° semana, as ultrassons começaram a mostrar redução do líquido amniótico e minha bebezinha parecia não estar ganhando peso suficiente. A altura uterina estava abaixo do esperado e minha pressão começou a oscilar bastante. Apesar de não ser um quadro ideal, Dr. Raniere sempre trazia palavras tranquilizadoras, com base nas evidências, o que me deixava segura e confiante. Como precaução, na 38° semana, ele sugeriu iniciarmos a indução natural com o descolamento de membranas. Eu autorizei que ele fizesse e apesar do incômodo, não senti dor alguma com o procedimento. Ao chegar em casa, observei que começou a sair muito tampão mucoso, muito mesmo. E assim permaneceu durante alguns dias. Mas nada de contrações dolorosas por enquanto. Apenas as de treinamento que eu já sentia há muitas semanas. Iniciei então as sessões de acupuntura pra estimularai da mais. Nas consultas obstétricas, que já aconteciam semanalmente, nessa fase, os cuidados se intensificavam. Dr. Raniere sempre atento aos laudos das ultras e acompanhando minha pressão. Meu coração estava tranquilo. Confiava em Deus, no meu médico e sabia que meu corpo estava se preparando pra o grande dia. Em casa, eu tentava outras formas de indução natural: chá de naoli, chá de canela, tâmara. Outro descolamento foi feito no consultório com 39 semanas (dessa vez mais dolorido e com tampão com sangue saindo). E o corpo começou a dar sinais. Após a última sessão de acupuntura, começaram os pródromos. As contrações doloridas vinham no início da noite, passavam a madrugada incomodando e iam embora pela manhã. Ainda sem ritmo. Foi um período muuuito cansativo. Aquele momento em a gente diz: não aguento mais estar grávida kkkkk. Chegamos às 40 semanas. E nada de trabalho de parto. Eu tava muito cansada. Há dias sem dormir por conta dos pródromos. Dor de cabeça por causa da pressão alterada. No sábado, dia 05. 08, eu decidi que não ia mais fazer nada de indução natural. Tava cansada de tantas tentativas. Esse amanheceu tão bonito que resolvemos ir à praia e aproveitar nossos últimos momentos como família de 3. Logo, logo seríamos 4. O corpo precisava relaxar pra que os hormônios pudessem trabalhar. E assim foi. Às 4h30 da madrugada do domingo, acordei sentindo duas contrações bem doloridas, diferentes das que sentia há dias. Ainda fiquei um pouco na cama, tentando entender o que tava acontecendo. Meia hora depois, levantei pra fazer xixi e chuá kkkk. A bolsa das águas tinha se rompido. Aquele líquido quentinho enxarcou toda a minha roupa. Que sensação gostosa! Tava chegando a hora de conhecer Marina. Saí de mansinho do quarto onde estavam dormindo meu filho e meu marido e corri pro banheiro pra verificar a cor do líquido, o cheiro. E ufa. Tudo ok. Líquido transparente com cheiro de água sanitária. E muuuuito tampão. Fui tomar banho. Fiquei alguns minutos debaixo da água quente pra ver se sentia alguma coisa de diferente. E nada. Nada de dor. Nada de contração. Vixe! Parecia ser bolsa rôta. De novo! Já tinha vivido isso no meu primeiro parto. Lá em 2019, foram mais de 30 hrs aguardando o início das contrações. Lembro de ter sido bem desesperador e arriscado. Mas dessa vez, não. Eu estava mais segura, mais informada e mais bem assistida. Descansei o coração. Saí do banho e, antes mesmo de acordar o marido, liguei pra minha doula Renata e pra Dr. Raniere. Renata verificou como eu estava me sentindo e pediu pra que descansasse na medida do possível. Raniere fez algumas perguntas pra se certificar que estava tudo bem e me avisou que estaria no hospital em poucas horas para dar alta a duas pacientes e que poderia me avaliar, caso eu sentisse necessidade. Como meu marido estava super ansioso, resolvi ir pra tranquilizar ele. Na avaliação, Raniere confirmou a bolsa rôta, fez mais um descolamento e disse que estava tudo bem comigo e com Marina. Conversamos sobre o percurso da gestação e ele me deu duas opções: internar pra iniciar a indução ou voltar pra casa e aguardar as contrações começarem. O colo ainda estava alto e com apenas um dedinho de dilatação. Como eu já tinha passado pela experiência da bolsa rôta no primeiro parto, entendi naquele momento que provavelmente ela fazia parte da minha fisiologia e que em algumas horas o trabalho de parto poderia finalmente engrenar. Então, escolhi ir pra casa e esperar as contrações. Eu queria muito me despedir do meu filho João, que tinha ficado com os avós e chorou bastante quando a gente saiu pro hospital. Depois de almoçarmos em casa, passamos a tarde brincando com João e nos despedindo mesmo da nossa família de 3. Foi um momento tão relaxante pra mim. Me senti em paz em ter tomado a decisão de ir pra casa e feliz de ter tido minha vontade respeitada. Por volta das 17h, quando levantei do chão onde brincava com João, senti um peso enooorme na barriga. Muito peso mesmo. Tanto que não consegui mais andar direito. Comecei a sentir umas cólicas leves, nada demais. Lá pras 21h, quando estávamos colocando João pra dormir, comecei a sentir as primeiras contrações. Muito parecidas com as dos pródromos. Sem ritmo e de pouca duração. Avisei a Renata e a Raniere e a recomendação foi de tentar descansar. E assim fiz. Consegui cochilar ate mais ou menos meia-noite. Quando acordei, notei que as contrações estavam ficando mais doloridas, porém sem ritmo ainda. Permaneci deitada, mas não consegui dormir mais. Perto das 2h, as dores começaram a de fato me incomodar. Levantei e tentei encontrar uma posição que aliviasse, ao mesmo que tentava cronometrar. Perto das 3h, as dores ficaram muuuito chatas e eu comecei a ficar impaciente. "Hora de ir pro hospital", pensei. Acordei o marido e pedi pra ele organizar as coisas no carro. Enquanto isso, liguei pra Raniere e avisei que não tava mais aguentando ficar em casa. Liguei pra Renata e pedi pra ela nos encontrar no hospital. Mas as contrações começaram a ficar muito perto umas das outras e eu achei melhor a gente passar pra pegar ela e seguirmos juntos pro hospital. "E se essa menina nascer no carro?", eu pensei. Acionamos a nossa rede de apoio, os avós, pra ficar com João e partimos. Eu não via a hora de chegar no hospital. "Preciso gritar", eu dizia ao meu marido. Dentro do carro, as contrações ficaram mais doloridas ainda. Quando elas vinham, eu ficava de joelhos no banco e vocalizava bastante. Renata fazia massagem nas costas. Chegamos por volta das 4h. Entrei no hospital com Renata e o marido foi estacionar o carro. Uma contração atrás da outra. Sentar eu não conseguia mais. Quando a contração vinha, eu inclinava o corpo pra frente e colocava as mãos nos joelhos. Depois de responder a inúmeras perguntas na triagem (em pé, com as mãos no joelho e Renata massageando minhas costas), segui pra uma sala de pré parto. Lá as contrações se intensificaram. "Não tem mais intervalo", eu gritei pra Renata. Eu vocalizava. Muito. Cotovelos apoiados na cama. Massagem. Muita massagem com óleo essencial. "Se quiser gritar, grita, Manu. Você veio aqui pra isso", Renata dizia. Eu só consguia vocalizar. Muito. Em todas as contrações. A obstetra do plantão fez um toque: 9 cm. "Graças a Deus", eu gritei. Ela pediu pra eu ficar deitada. "Levanta, Manu. Você não vai aguentar sentir a próxima contração deitada", renata falou. E eu voltei pra posição que eu tava. Escutei quando meu marido mandou mensagem pra Raniere. "Dr., ela já tá com 9 cm", ele falou. A médica platonista saiu correndo pra dar entrada no internamento. Meu marido saiu doido atrás dela kkkk. "Vai nascer, Dra", ele disse. (Essa parte ele me contou porque nessa hora eu já não tava vendo mais nada kkkk). Nesse momento (eu acho kkk), Dr. Raniere chegou. Eu não o vi porque estava numa contração muito forte. Mas percebi que as luzes foram apagadas (meu marido contou que foi ele quem apagou) e escutei a voz dele brincando: "Rapidinha ela, né?". No intervalo curto das contrações, eu confirmei a chegada dele: "Ai, graças a Deus que Raniere chegou! Já posso parir". Todos riram. Meu marido foi assinar os benditos papéis do internamento. Raniere trocou de lugar com ele e me deu as mãos pra eu apertar. Não lembro de ter apertado. Lembro apenas de segurar nas mãos dele e agradecer a Deus por estar rodeada das pessoas que eu queria que estivessem naquele momento comigo. Chegou o maqueiro. "Manu, vamos lá pra cima. Lá é um lugar melhor pra gente parir", Raniere falou. Eu senti que faltava muito pouco nessa hora. Avisei que não ia conseguir ir deitada na maca. Então, a enfermeira do plantão trouxe a cadeira de rodas. Antes de eu sentar, ela perguntou se eu poderia mesmo ir na cadeira. E Raniere disse: "Ela tá comigo". E seguimos pro 9° andar, pra sala de parto. Que caminho longo, meu Deus! Quantos corredores! Meu marido disse que me levantei várias vezes da cadeira quando as contrações vinham. Colocava as mãos nos joelhos e vocalizava. "Que calor!", eu disse quando entramos no elevador. Eu comecei a entrar na partolândia. Faltando pouco pra chegar na sala de parto, eu senti a primeira vontade fazer força. "Não vai dar tempo", eu pensei. É impressionante como a gente pensa mil coisas durante o trabalho de parto kkkk. Chegamos na sala e eu escutei Raniere dizer: "Manu, sobe na cama e fica de joelhos com as mãos apoiadas na cabeceira. Tu vai gostar desse posição". Como minha dor era toda nas costas, eu imaginei que seria uma boa posição mesmo. Mas meu corpo não respondia. Eu não conseguia levantar da cadeira. "Ela tá em transe", ouvi Renata dizer. Meu corpo tava ali, mas minha cabeça tava em outra dimensão. Do nada, tive uma tomada de consciência e me levantei num sobressalto da cadeira. Renata e meu marido correram pra tirar minha calcinha. E veio mais um puxo que me fez inclinar o corpo pra frente. Raniere correu em minha direção. "Eita.. a posição". Nessa hora lembro de colocar a mão embaixo e senti tudo se abrindo. Senti medo. Aquele medo que vem antes de uma coisa incrível acontecer, sabe como é? Apesar de saber que eu poderia parir na posição que eu quisesse, não me senti segura de parir em pé. Lembrei da sugestão de Raniere. Subi na cama e me posicionei de joelhos. Até hoje me pergunto como consegui isso com a menina já coroando kkkk. "Junta mais os joelhos, Manu", Raniere disse. "Ai, tá queimando, tá queimando, tá queimando", eu gritei. "É o círculo de fogo, Manu", Renata me lembrou. "Ela já tá aqui, amor", meu marido falou emocionado. Olhei pra baixo e vi a cabeça de Marina saindo. Passei a mão no cabelinho dela. "Meu Deus, Meu Deus, Meu Deus", eu repetia. Raniere chamou meu marido: "Vem que ela já tá saindo". O último puxo veio. Forte, longo, dolorido. E Marina nasceu. Minha Marina. Rápida como um foguete. A cara do irmão. Às 4h57 do dia 07.08.23. Foi recebida pelo pai, como era nosso desejo. Mas como o cordão era muito curto, Raniere precisou ajudar a me entregar. "Ela tá aqui, Manu, nas minhas mãos. Pode virar. Ela tá segura", ele disse. Então, eu sentei e finalmente recebi a minha Marina. Naquele momento o tempo parou. Ficamos nós duas ali, nos reconhecendo por uns bons minutos. Que conexão! Tão quentinha, tão gostosinha de segurar. E o cheiro da cabeça? Uma delícia! Os primeiros raios de sol entravam pela fresta da janela. A vida começava a se movimentar lá fora e dentro de nós. Quando o cordão parou de pulsar, o papai fez o corte. Enquanto curtíamos nossa hora dourada, Dr. Raniere e sua assistente continuavam os cuidados acompanhando a saída da placenta. Marina foi avaliada pelo Neo do plantão. Apgar 9 e 10. Mas o nascimento de Marina não terminou aí. Por conta de um desconforto respiratório causado por uma hipotermia, que só foi notado quando chegamos na enfermaria, ela precisou ir pra UTI. Foram os 5 piores dias da minha vida. Lembro de Raniere ainda mantendo contato conosco durante esses dias, sempre trazendo palavras de bom ânimo, assim como Renata, minha doula e amiga. Um momento da minha vida do qual nunca esquecerei. Podem passar 100 anos e eu nunca esquecerei.